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2 / 23 • O Silêncio de Lourdes Ana apertou na palma de sua mão a barra de ferro do portão, ergueu a cabeça e observou por entre as lentes escuras dos óculos o velho asilo. O ranger do portão lembrava os gemidos dos velhos quando aplicava um exercício que exigia um pouco mais dos nervos ou da mente. Ana era fisioterapeuta e a voluntária preferida daquele lugar. Era jovem, estava próxima de completar vinte e quatro anos, trabalhava em um hospital público da cidade de São Paulo, mas reservava todas as manhãs para atender no asilo. Diferentemente dos outros dias, não cumprimentou os idosos como de costume: tocando-os, abraçando-os, com seu sorriso jovial. O sorriso daquela manhã, pouco convincente, veio acompanhado de olhos úmidos. Caminhou fitando o chão e, num único movimento, puxou seus cabelos ruivos, compridos e ralos para a frente do ombro esquerdo; sinal de que se sentia insegura. Naquela manhã tudo parecia igual: as duas fileiras de portas de madeira pintadas de azul; a poça d'água que se formara na entrada da capela por conta da chuva da noite passada; os canteiros sem flores que acompanhavam o corredor. Até o senhor Antonio, um velho negro, tão magro que se via os ossos pontudos esticarem a pele flácida, estava sentado ao lado de um gato malhado, à frente da porta cinquenta e quatro, no mesmo lugar, na mesma posição. E como Ana já podia prever, ele tirou o chapéu quando a viu. Tudo em seu devido lugar, apenas Ana não era a mesma. Aquelas cem portas azuis, que escondiam uma minúscula sala, um quarto e um banheiro, eram a última morada de seres humanos cujo pecado era viver demais. Pessoas que por trás de seus olhos úmidos guardavam histórias octogenárias, algumas, centenárias, de uma época em que viviam rodeados de filhos, netos, irmãos, cunhados e sobrinhos. Foram tantas refeições aos domingos, em volta de enormes mesas, se empanturrando de macarronada com queijo... Foram muitos natais rodeados de crianças. Tempos fartos. Para outros, histórias de misérias, de guerras, de repressão. Falar com eles era abrir um livro em que existia um narrador- personagem presente. Alguns não se lembravam de passagens da história, talvez com medo das próprias lembranças, mas lembrar-se da família trazia imagens que eles tinham nítidas e intocáveis em suas memórias. Ana acenou para três senhoras que tomavam banho de sol à frente da capela, sentadas em suas inseparáveis cadeiras de rodas. Abriu a porta quarenta e cinco sem bater, e o cheiro
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